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Verminoses caninas

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A importância das verminoses caninas na transmissão de zoonoses

Os parasitas intestinais

Os parasitas intestinais dos cães, também chamados de helmintos ou popularmente conhecidos como “vermes”, estão entre os agentes patogênicos mais comumente encontrados em animais de companhia e constituem uma das principais causas de transtornos intestinais em cães, além de apresentarem uma grande importância para a saúde pública devido ao alto potencial em causar doenças em humanos, as chamadas zoonoses (BLAGBURN et al., 1996).

Os vermes que comumente infectam os cães são o Ancylostoma caninum, o Toxocara canis e o Dipylidium caninum, que de acordo com sua morfologia (forma), foram divididos em diferentes filos (divisão evolutiva de animais e vegetais).

Ancylostoma caninum e o Toxocara canis pertencem ao filo Nemathelminthes e à classe Nematoda e por isto são denominados de nematódeos ou nematóides. Os parasitas pertencentes a este filo apresentam corpo cilíndrico, alongado e não-segmentado, popularmente são conhecidos como “vermes redondos”. Esta é a classe de maior destaque entre os helmintos devido a sua patogenicidade e ampla distribuição geográfica.

Já o Dipylidium caninum pertence ao filo Platyhelminthes e a classe Cestoda, sendo denominados de cestódeos ou vulgarmente conhecidos como “vermes chatos”, os parasitas desta classe apresentam corpo achatado e segmentado com aspecto semelhante a uma fita.

Em cães, a prevalência de verminoses gastrintestinais é elevada, sendo que os animais mais jovens são mais suscetíveis e apresentam manifestações clínicas mais graves. Cães com parasitoses gastrintestinais sofrem ação irritante e espoliativa dos helmintos, que causam anorexia, diarreia, vômito e retardo no crescimento; além de levarem o organismo a um quadro de imunossupressão que contribui para o aparecimento de processos de natureza infecciosa de origem bacteriana e viral.

Além da importância clínica veterinária, tais vermes também estão envolvidos na transmissão de zoonoses. Sabe-se que parasitas de diversas espécies do gênero Ancylostoma spp. causam em humanos uma zoonose conhecida como Larva migrans cutânea, popularmente chamada de bicho geográfico; o verme Toxocara canis, é o responsável pela transmissão da Larva migrans visceral bem como o Dipylidium caninum, que na maioria das vezes não causa lesões graves nos cães, porém tem importância relacionada à saúde pública por atuar na transmissão de doenças ao homem, como a dipilidiose.

Dentre outros parasitas de cães, podemos citar o protozoário Giardia spp., responsável em ocasionar a doença giardíase, considerada uma zoonose com sintomas semelhantes aos causados pelos vermes e que ocorre através da ingestão de cistos de Giárdia na água, verduras, frutas ou objetos contaminados (mãos levadas à boca).

Ancylostoma caninum e a transmissão da doença “Larva migrans cutânea”

Ancylostoma caninum é um nematódeo hematófago do intestino delgado de cães cuja principal forma de infecção é efetuada pela passagem de larvas pelo leite de cadelas lactantes. Os animais jovens são frequentemente acometidos, porém ao longo da vida do animal a infecção continua a ocorrer pela penetração cutânea e pela ingestão de larvas juntamente com alimentos e água (BOWMAN et al.,2002).

Além disso, larvas encistadas na musculatura podem ser reativadas em situações de queda de imunidade ou de administração de anti-helmínticos (KALKOFEN, 1987). Nos cães, a gravidade das infecções provocadas por estes nematódeos depende da via de infecção, do número de formas infectantes e da resposta imune desses hospedeiros.

Em cães jovens, a passagem de larvas pelo leite pode ter consequências fatais ou ser responsável pela produção de quadros de anemia hemorrágica aguda ou crônica acompanhada de diarreia, que pode conter sangue e muco; já nos cães adultos podem causar deficiência de ferro e anemia hipocrômica microcítica (URQUHART et al., 1996).

Em seres humanos, larvas infectantes de Ancylostoma podem penetrar na pele causando a dermatite serpiginosa ou Larva Migrans Cutânea (LMC), conhecida popularmente por “bicho geográfico”.

A infestação ocorre principalmente após o contato com solo contaminado com as fezes de cães e gatos parasitados. Depois de 2 a 8 dias no meio ambiente, as larvas eclodem dos ovos e já estão prontas para penetrar na pele intacta. Nos seres humanos o parasita é incapaz de migrar para além da junção dermoepidérmica, formando uma lesão sinuosa e saliente, a qual apresenta na porção terminal uma pápula, região onde está localizada a larva.

A penetração dessas larvas na pele provoca, inicialmente, uma reação intensamente pruriginosa podendo levar a quadros alérgicos locais e sistêmicos, infecções e eczemas. Em relação às formas da prevenção desta patologia, a vermifugação regular de todos cães; bem como evitar o acesso desses animais à locais públicos e recolher as fezes do ambiente, são medidas fundamentais.

Toxocara canis como agente transmissor da doença “Larva migrans visceral”

Assim como Ancylostoma spp.Toxocara canis é frequentemente encontrado no intestino delgado de cães. A principal via de infecção é pela passagem transplacentária de larvas que se encontram encistadas nos tecidos das cadelas prenhes.

Por tal motivo, é considerada uma infecção frequente em animais jovens, onde aproximadamente 80% dos cães com menos de seis semanas de idade possuem exemplares de Toxocara em seus intestinos, podendo ou não eliminar os ovos nas fezes e morrer em consequência do parasitismo, já os cães adultos também podem permanecer susceptíveis e contribuir para a contaminação ambiental (OVERGAAUW, 1997).

Nos cães, os efeitos da infecção por T. canis dependem da idade do animal, do número, localização e estágio de desenvolvimento dos vermes (PARSONS, 1987). Em infecções maciças, a migração de grande número de larvas pelos pulmões pode provocar tosse, aumento da frequência respiratória e corrimento nasal espumoso; os vermes adultos no intestino podem causar obstrução intestinal, dos ductos colédoco e pancreático (URQUHART et al., 1996).

Em humanos, a infecção por T. canis ocorre pela ingestão de ovos larvados presentes no solo poluído, em fômites e em mãos contaminadas com fezes de animais parasitados. Após penetrarem na parede intestinal dos seres humanos as larvas, embora não completem o ciclo biológico, podem migrar e se encapsular em tecidos de diferentes partes do corpo antes que sejam destruídas pelo sistema imunológico do organismo, resultando na patologia denominada Larva Migrans Visceral (LMV) e Larva Migrans Ocular (LMO) após invasão das larvas no globo ocular.

Embora na maioria dos casos a doença seja subclínica (ou assintomática) a migração das larvas pode ocasionar nos seres humanos sintomas como dores abdominais, náuseas, vômitos, tosse, febre e a formação de significativas reações granulomatosas eosinofílicas provocando uma espécie de nódulo. Estes nódulos contendo as larvas do segundo estágio (L2) deste parasita podem ocorrer no fígado, coração, pulmões, rins e cérebro. Ao se alojarem nos olhos, as larvas podem causar estrabismo, diminuição da visão e até mesmo cegueira.

Sabe-se que muitos dos problemas de contaminação com T. canis poderiam ser reduzidos com o tratamento preventivo. Se os filhotes de cães fossem levados ao veterinário para uma consulta de orientação básica e devida vermifugação a partir do primeiro mês de idade, o tratamento instituído não permitiria que as larvas se desenvolvessem, atingissem a maturidade e produzissem ovos contaminantes.

Teoricamente, toda a população de cães contribui de forma contínua para a contaminação ambiental. No caso de T. canis, embora os animais adultos possam albergar vermes adultos no intestino e eliminar ovos nas fezes, a contaminação ambiental parece ser principalmente devida a grande fecundidade das fêmeas e à elevada resistência dos ovos no ambiente (HABLUETZEL et al., 2003).

Dipilidium caninum e a transmissão da Dipilidiose

Dentre os cestódeos parasitas gastrintestinais, o Dipylidium caninum é a espécie a qual compreende as chamadas tênias e apresenta grande importância para a saúde dos cães e do homem, por se tratar de uma zoonose (MOLINA et al., 2003).

Tais vermes possuem o corpo dividido em segmentos, denominados de proglotes, os quais se destacam destes cestóides e são eliminados com as fezes. As proglotes podem ser observadas nas fezes a olho nu, isoladamente ou em grupos, e são ativas porque se movem lentamente sobre ou próximo às fezes recém-evacuadas ou na região próxima ao ânus do cão ou do gato (região perineal). Em tempo seco as proglotes ressecam e podem não ser detectadas. Porém, quando rompidas no meio ambiente são capazes de liberar mais de 20 ovos.

Principalmente as pulgas e em menor escala também os piolhos mastigadores, desempenham um importante papel no ciclo biológico do Dipylidium caninum, pois funcionam como hospedeiros intermediários.

As larvas das pulgas ao ingerir os ovos de Dipylidium caninum das fezes dos cães, originam uma larva cistecercóide que irá se alojar nas pulgas adultas. Os cães se infectam com o Dipylidium caninum ao se coçarem e se lamberem, pois acabam ingerindo as pulgas infectadas.

Os seres humanos também podem se infestar com a forma adulta de Dipylidium caninum através da ingestão acidental de pulgas parasitadas, neste caso com maior incidência em crianças jovens. Os sintomas mais comuns em crianças são de desconforto, dores abdominais, irritabilidade nervosa, diarreia e prurido anal.

Para a prevenção dessa patologia, a realização de vermifugação nos animais e principalmente a utilização de produtos para o auxílio no controle das pulgas, são medidas essenciais.

Giardia como agente transmissor da Giardíase

Em relação aos protozoários parasitas gastrintestinais de cães, como a Giardia, são reconhecidas cinco espécies que habitam o trato intestinal de todas as classes de vertebrados, porém a Giardia duodenalis é a única espécie encontrada em seres humanos e na maioria dos mamíferos domésticos e silvestres (THOMPSON et al., 2002).

Ainda assim, considera-se que a prevalência de Giardia em animais de companhia é frequentemente subestimada por causa da baixa sensibilidade dos métodos convencionais de diagnóstico, em virtude dos parasitas ocorrerem em níveis subclínicos e da eliminação de cistos ser naturalmente intermitente (McGLADE et al., 2003).

Nos cães e gatos os principais sinais clínicos são diarreia com odor fétido, presença de muco e estrias de sangue, desidratação, cansaço e falta de apetite. Os seres humanos apresentam sintomas muito semelhantes aos dos animais.

No Brasil, o grande número de indivíduos que vivem em comunidades onde a precariedade de habitação; a falta de saneamento básico e as elevadas prevalências de Giardia nos animais fazem com que a transmissão zoonótica desse protozoário seja uma possibilidade que não pode ser negligenciada.

MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO

Apesar da identificação de algumas parasitoses emergentes só ter sido possível graças ao emprego de métodos moleculares, o exame microscópico de fezes ainda é a base do diagnóstico de grande número de enfermidades parasitárias, pois possibilita a detecção das formas evolutivas de helmintos e protozoários com 100% de especificidade.

A verificação do histórico do animal e a realização de exame físico para detecção de sinais clínicos característicos também são etapas fundamentais para a conclusão do diagnóstico.

TRATAMENTO DAS VERMINOSES

Atualmente, o mercado oferece um considerável número de medicamentos, sendo estes compostos na maioria das vezes por associações de ativos altamente eficazes e seletivos, com amplo espectro de ação e que apresentam a finalidade de aumentar ou complementar a atividade contra os helmintos.

Dentre os ativos anti-helmínticos o febantel, considerado uma droga pró-benzimidazol, é indicado por apresentar eficácia e mecanismo de ações semelhantes a outros benzimidazóis que atuam ligando-se a moléculas de tubulina, inibindo a formação de microtúbulos e interrompendo, com isso, a divisão celular do verme. Geralmente é comercializado na dose de 15 mg/kg associado aos ativos pamoato de pirantel e praziquantel.

O pamoato de pirantel, pertencente à classe das pirimidinas, irá atuar ligando-se aos receptores de acetilcolina e estimulando assim a sua ação, o que resulta em excesso de despolarização de membranas com sucessivas contrações, provocando a morte do parasito por paralisia espástica. É indicado na dose de 14,4 mg/kg.

Já o praziquantel, indicado na dose de 5 mg/kg, faz parte do grupo das isoquinolonas e apresenta ação na junção neuromuscular provocando a contração e paralisia instantânea do parasita, além de atuar na junção do tegumento produzindo vacuolização extensa e destruição do tegumento protetor. A combinação de paralisia e destruição do tegumento propicia uma excelente atividade contra cestódeos.

Os macrolídeos (ou lactonas macrocíclicas) também são utilizados em formulações anti-helmínticas. Nesta classe, que inclui as avermectinas; a Ivermectina é o ativo mais conhecido. Apresenta alta afinidade aos canais de cloro e ao promover o influxo de cloro irá atuar hiperpolarizando os neurônios do parasita, evitando assim o início ou a propagação dos impulsos normais.

O efeito final é a paralisia e a morte do parasita. De modo geral é altamente eficaz em doses baixas (0,006 mg/kg), muito segura e apresenta um amplo espectro de atividade contra nematódeos e artrópodes.

O protocolo de vermifugação deverá ser realizado de acordo com recomendação do médico veterinário, sendo aconselhável uma dose de reforço 15 dias após cada vermifugação e a repetição do protocolo deverá ser realizada a cada 6 meses, 4 meses ou 3 meses, dependendo do ambiente (“desafio”) onde o animal vive.

Um medicamento anti-helmíntico ideal caracteriza-se por apresentar composição química estável; ação sobre os estágios adultos e imaturos em desenvolvimento ou inibidos: ação sobre diversas espécies de helmintos; eficácia contra cepas resistentes aos anti-helmínticos comuns; não interferir no estabelecimento da imunidade; fácil administração para grande número de animais; uso em dose única ou esquemas de curta duração; boa palatabilidade e compatibilidade com outros compostos.

A dose ótima de um anti-helmíntico determinada pelo fabricante é aquela necessária à eliminação de uma alta proporção (mais de 95%) de parasitos adultos com adequada segurança.

Associado ao protocolo de vermifugação, a limpeza de canis e locais onde os animais permanecem também deve ser um procedimento de rotina, sendo feita com produtos adequados que possam remover mecanicamente ovos dos vermes e/ou esterilizá-los. Como por exemplo, o cloreto de benzalcônio 15% (Herbalvet T.A.®). Além disso, os canis devem ser projetados de maneira que os raios solares possam dessecar os ovos presentes no solo e que são resistentes a produtos químicos.

CONCLUSÃO

É importante reforçar que o envolvimento dos médicos veterinários com as doenças parasitárias nas clínicas veterinárias de pequenos animais não se restrinja apenas à prescrição de drogas antiparasitárias, mas sim, que todos estejam empenhados em conhecer o ciclo evolutivo dos parasitas, sua epidemiologia, profilaxia e, sobretudo, que possam transmitir tais conhecimentos aos proprietários dos animais, contribuindo assim para a saúde pública.

Referências:
  • BLAGBURN, B.L. et al. Prevalence of canine parasites based on fecal flotation. The Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v.18, n.5, p.483-509, 1996.
  • BOWMAN, D.D.; HENDRIX, C.M.; LINDSAY, D.S.; BARR, S.C. Feline Clinical Parasitology. Iowa: Iowa State University Press, 2002. 469p.
  • KALKOFEN, U.P. Hookworms of dogs and cats. Veterinary Clinics of North America Small Animal Practice, v.17, n.6, p.1341-1354, 1987.
  • URQUHART, G.M.; ARMOUR, J.; DUNCAN, J.L.; DUNN, A.M.; JENNINGS, F.W. Parasitologia Veterinária. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. 273p.
  • OVERGAAUW, P.A.M. Aspects of Toxocara epidemiology: toxocarosis in dogs and cats. Critical Reviews in Microbiology, v.23, p.233-251, 1997.
  • PARSONS, J.C. Ascarid infections of cats and dogs. Veterinary Clinics of North America Small Animal Practice, v.17, n.6, p.1307-1340, 1987.
  • HABLUETZEL, A et al. An estimation of Toxocara canis prevalence in dogs, environmental egg contamination and risk of human infection in the Marche region of Italy. Veterinary Parasitology, v.113, p.243-252, 2003.
  • MOLINA, C.P.; OGBURN, J.; ADEGBOYEGA, P. Infection by Dipylidium caninum in an infant. Archives of Pathology & Laboratory Medicine, v.127, p.157-159, 2003.
  • THOMPSON, R.C.A. Veterinary parasitology: looking to the next millennium. Parasitology Today, v.15, n.8, p.320-325, 1999.
  • MCGLADE, T.R.; ROBERTSON, I.D.; ELLIOT, A.D.; READ, C.; THOMPSON, R.C. Gastrointestinal parasites of domestic cats in Perth, Western Australia. Veterinary Parasitology, v.117, n.4, p.251-262, 2003.

Fonte: @vetsmart
https://www.vetsmart.com.br/cg/estudo/13598/boletim-tecnico-a-importancia-das-verminoses-caninas-na-transmissao-de-zoonoses

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